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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

INVASIVO

INVASIVO

Entra, senta, estica as pernas, toma a metade da sala, quase se deita. Com seu jeito folgadão, acende um cigarro, empesteia a casa, fico eu com o tubo de Bom Ar envenenando meus pulmões cor de rosa. Aliás, outro dia fiz uma colonoscopia, deu tudo cor de rosa também. Interessante, sou Barbie por dentro.

Mas voltando ao Invasor: ele chega como a música do Chico Buarque: "sem muita conversa, sem muito explicar..." E vai ficando. Tenho que dizer: Ôh, por favor, quer desocupar a moita, pegar o beco, tomar um rumo...enfim, vá-se!

Fala grosso demais, a vizinhança toda escuta o vozeirão e a risada solta. Confesso que até gosto, às vezes. Outras vezes, ele me incomoda. Pois, afinal, o meu ano sabático foi construído às custas de muita solidão. Acostumei. Quero minha solidão de volta, meu sofá de dois lugares que a mim mal cabe, quero meu cinzeiro limpo, minha casa cheirosa, almoçar sozinha, escrever no bar. Quero. Sinto falta do mim, esse que ele invade sem cerimônia.

Outro dia pedi delicadamente "vá-se!", e me deitei e dormi. Acordei com o toque do telefone celular - era ele.

Noutro dia, quando coloquei meus dois pés que possuo no solo da cidade de São Paulo, botei o celular em on, ele começou a tocar...e tocou muitas vezes, até que tive que desligar. Pois não é que ele estava sentado no bar da esquina, me viu chegar com as malas...e suponho que queria que o avião tivesse aterrissado no heliporto inexistente do meu prédio, tal a pressa.

Às vezes penso que ele vai me consumir, vai me aspirar, vai...me matar mesmo, sabe como é? Estou sufocando, em fase de indecisão. Não estou acostumada com o amor.
É assim, isso?
OLGA Mota
Veja mais da autora em: http://espacodaolga.blogspot.com/